"CARPE DIEM"

"Pedras no caminho? Um dia junto todas e vou construir um castelo..." (Fernando Pessoa)

domingo, junho 03, 2007

Espaços...

Ela dirigia-se para um sítio onde existe descontracção e divertimento, onde há movimento, onde o corpo dança ao som da música, parece um baile… Ela está a viver uma história dentro de si mesma, num sítio só por ela conhecido. Este sítio, com muitas luzes, várias cores e muita gente, torna-se agora 1 palco onde as pessoas que habitam em si, vivem num clima de sedução, onde estão à vontade para beber e curtir; um local um pouco inacessível, fechado e sem luz natural; um local especial que se liga apenas ao sentido da visão. Entre ela e este espaço, para o qual encontra um chamamento do corpo, desperta uma barreira transparente, intransponível a todos os sentidos, excepto à visão. Impedida de transpor esta barreira, eis que encontra um lado seu extremamente bem disposto, atraente, bem constituído; uma parte sua que é muito simpática, mas com a qual tem pouco contacto. Apesar de se darem muito bem, não têm ainda muita confiança um com o outro (ela e esse lado); já trocaram algumas impressões e até tiveram oportunidade de aprofundar alguns temas, mas há coisas que ela ainda não contou a esse lado, no qual, contudo, sabe que pode encontrar apoio. Mas este lado não pode ser ignorado durante a odisseia que ela iniciou... Ela efectua as suas caminhadas protegida contra o frio e contra o sol, o que, na sua visão, a torna mais bonita. No entanto, este seu lado simpático e vivaço, que tanto deseja conhecer mais intimamente, não reage bem àquilo que ela pensa que a protege, pois ela desconhecia que, quando se protegia do frio e, portanto, do desconforto, e do sol e do calor, também não conseguia sentir a emoção. Como estes dois lados se voltaram a separar, ela prosseguiu a sua caminhada dirigindo-se para um local reservado, onde podia salvaguardar as suas necessidades e cuidar de si. Neste local, também fechado, à semelhança do primeiro por onde já tinha viajado, encontrou um lado seu mais calmo, tão simpático como o outro, generoso, paciente e descontraído, num contexto de grande à vontade. Este é um lado seu que “errou” por caminhos que não lhe trouxeram felicidade, que o levaram a repensar muito bem o caminho por onde a voz interna o levava, abrindo-se à vida e saindo de um claustro onde tinha efectuado um retiro desligado do mundo. Mas estes encontros não a detiveram, nem fizeram com que se esquecesse do sítio para onde o seu corpo tinha sido chamado inicialmente. Assim, imaginou-se a chegar ao baile com um dos seus tecidos favoritos, algo prático e descontraído, informal e agradável às formas do seu corpo, mas cuja natureza, desconhecida por ela, era também áspera e rugosa. Que roupa era esta que ela tanto queria usar e lhe trazia uma mensagem, por detrás da aparência da forma, mostrando uma outra face, não tão convidativa? Desconhecendo, aparentemente, esta realidade, e decidida a estrear o baile com esses tecidos, foi então preparar-se e, quando olhou para as suas mãos, para seu espanto, ficou atónita consigo mesma... o tecido que tinha nas suas mãos, embora não fosse adequado à ida para o baile, era algo feito com algodão, leve e mole, de cor azul clara e macio à pele…

1 comentário:

Anónimo disse...

Este texto é muito interessante e, ao mesmo tempo, difícil de interpretar, pelo menos para mim!
Mas penso que entendo a mensagem nele contida! e o que te posso dizer - o sonho comanda a vida e entre encontros e desencontros, a felicidade está ao alcance de quem a procura! Às vezes aparece, de repente, ao voltar da esquina, tal qual como uma leve neblina que nos envolve para não nos deixar mais...e os diálogos entre os nossos "egos" são sempre muito importantes e ajudam imenso...beijinhos da
Ailime